JARDIM DAS HESPÉRIDES - A NOSSA DIMENSÃO DA DEUSA

O Jardim das Hespérides é a nossa dimensão sobrenatural, a nossa dimensão da Deusa. À semelhança da Ilha Sagrada de Avalon, ele é parte integrante da cultura celta do Arco Atlântico, na qual desde sempre nos inserimos, e a sua energia, tal como acontece em Avalon, também é sustida por um grupo de Nove Irmãs. As Nove Irmãs do Poente, Aquelas que guardam a sabedoria da imortalidade, as Nove Hespérides: Eufémia, Marciana, Genivera, Marinha, Bazília, Vitória, Liberata, Germana e Quitéria, que nos ensinam a cultivar os valores essenciais para vivermos como almas imortais que somos.

O Jardim das Hespérides é um paraíso, um lugar de delícias onde todos os nossos sentidos se deleitam. Vários autores antigos referem a felicidade dos habitantes da Hespéria, como Homero, que a considera “uma reminiscência da Idade de Ouro”, (citando Victor Adrião). Ou ainda Plutarco quando afirmou na biografia de Sertório, que este general romano pretendia acabar os seus dias neste lugar abençoado por Vénus, onde não havia guerras nem tiranias.

Na verdade, foi a existência entre nós das Nove Irmãs míticas que me fez compreender serem elas as sustentadoras da energia dum lugar paradisíaco, um denominado Mundo do Além, remanescente da Idade de Ouro matrifocal, a antiga e eterna dimensão da Deusa. Os Seus nomes foram conservados no rol das Santas, encobertos, é minha convicção, pela última camada cultural significativa pré-cristã no nosso território, que foi a greco-romana. Esse lugar paradisíaco, entretanto, que as/os antigas/os gregas/os situavam aqui, no Ocidente longínquo onde o Sol se põe, e onde se acreditava que a Terra terminava, foi como sabemos um território muito cobiçado porque rico em ouro, prata e vários outros metais e recursos. Essa terra mítica, ao mesmo tempo física e sobrenatural, foi denominada Jardim das Hespérides, das mulheres ou das sacerdotisas da Hespéria, hoje conhecida por Ibéria, e, diz-nos o mito, ele pertencia à Deusa Hera. Aí eram guardadas por essas notáveis Irmãs do Poente as Maçãs de Ouro da imortalidade. Talvez uma metáfora para as famosas pepitas de ouro duma possível veia aurífera do vale do Tejo, pensam algumas pessoas. Um dragão protegia as Irmãs e o Jardim, sendo o seu nome Ladão. Mas esse reino de bem-aventurança chegou um dia ao fim, diz-nos o mito, pela acção do herói patriarcal Hércules, que no cumprimento de um dos seus famosos Doze Trabalhos, o décimo primeiro, matou Ladão para poder apoderar-se das cobiçadas Maçãs de Ouro das Hespérides. Quer isto dizer que um núcleo remanescente da antiga ordem matrifocal foi finalmente destruído e convertido pela força à nova ordem patriarcal.

Várias autoras e autores na nossa cultura afirmaram que esse mito teve origem na Ibéria, terra do Oeste, do fim do mundo. Quanto ao número das guardiãs desse Jardim dourado, e até por ele variar de acordo com cada uma das versões do mito, faço fé nas palavras de Stuart McHardy quando diz que tende sempre a considerar grupos significativos de mulheres míticas como sendo de Nove.

Esta é uma dimensão de paz, de harmonia, de sustentabilidade, de inclusão, de parceria, de celebração da Vida, uma preciosa herança cultural que é uma inspiração para o nosso presente e que está ao nosso alcance resgatarmos, reivindicarmos e cuidarmos.